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Meu Golpe Favorito
Parte 01 - Por que sofrem tantos golpes os socialistas?
Nasci em um tempo onde os governos desfrutavam de maior estabilidade. Na América Latina, a transição das ditaduras militares para os regimes democráticos foi serena. E foi assim porque a guerra já havia sido combatida durante os próprios governos, e seu término foi a consequência inevitável de anos de má administração. Os militares nunca foram hábeis no ofício de governar, uma verdade que a história reiteradamente nos ensina.
Mas, sempre que os socialistas assumem o poder, cedo ou tarde ocorre o inevitável golpe, alguém deseja arrancá-los do mando pela força. Esse é o discurso, ou melhor, a narrativa corrente. Mas voltemos à história para compreender esse movimento peculiar.
Desde a Revolução Francesa, passando pela Revolução Russa, culminando nos regimes nazistas e fascistas, até a nazi-esquerda que dominou a América Latina após a Segunda Guerra Mundial, observa-se que o populismo é a chave mestra para que a esquerda alcance o poder.
Para melhor situar as coisas, é relevante compreender três termos frequentemente repetidos, mas raramente definidos com precisão.
Primeiramente, o que é a esquerda, enquanto espectro político?
Em seguida, que entendemos por socialismo, conforme delineado por seus idealizadores? E, por fim, que é o comunismo, igualmente segundo aqueles que o conceberam?
Esquerda: Quando irrompeu a Revolução Francesa, um desejo insaciável de eliminar nobres e oligarcas tomou conta dos revolucionários. Qualquer cidadão podia denunciar alguém que julgasse nobre ou cúmplice dos nobres, e esse alguém seria investigado, preso e, provavelmente, guilhotinado. Em certo momento, um grupo dentre os revolucionários, horrorizado com a carnificina, decidiu pôr fim à matança e governar a nova república de forma mais ordenada. Esses foram chamados de girondinos. A pequena fração que ainda ansiava pelo sangue dos nobres ficou conhecida como jacobinos. Os jacobinos, enfurecidos, acusavam os girondinos de conservadorismo, afirmando que queriam preservar a nobreza que outrora havia usurpado a riqueza da França.
No Parlamento, os jacobinos perceberam que, fazendo o barulho típico das minorias, seriam melhor ouvidos. Por isso, combinaram de se sentar juntos, em bloco, à esquerda do presidente do parlamento. Ali, como uma torcida organizada, opunham-se a qualquer proposta que não fosse de sua autoria, independentemente de seu mérito. Assim nasceu o conceito de esquerda na política que conhecemos hoje. É patente que, neste parágrafo, a situação foi sintetizada, pois essa relação, esse nascimento conceitual, se dá de maneira mais profunda e intrincada nas entranhas da Revolução Francesa.
Socialismo: Karl Marx, em seu Manifesto Comunista, define o socialismo como uma fase de transição entre o capitalismo e o comunismo. É o momento em que o governo confisca a riqueza dos nobres e dos usurpadores da nação e a redistribui ao povo. Esta etapa pode durar décadas, pois a ideia é, pouco a pouco, destruir a estrutura social existente e substituí-la por uma nova, que, naturalmente, será coordenada pelos próprios idealizadores.
Antigamente, esse processo se realizava pela força bruta, mas hoje, como observamos com o progressismo e a nazi-esquerda latino-americana, é feito de dentro para fora, ao longo de décadas de corrosão das estruturas democráticas. No entanto, o conceito e o objetivo permanecem os mesmos.
Comunismo: É o estágio em que o capital (curioso, não?) foi redistribuído, e uma nova sociedade, teoricamente mais igualitária e mais voltada ao bem comum, está plenamente estabelecida. Mas é, na verdade, o instante em que se esvai toda resistência democrática interna, ficando apenas o mesmo partido ou a mesma coalizão a ditar todas as vontades do “povo”. Os demais estão presos, mortos, silenciados ou exilados.
Poucos países realmente chegaram a esse momento. Podemos mencionar a Rússia até o final da Guerra FriaMas é, na verdade, o regime nazista, o regime fascista, a atual Coreia do Norte, Cuba, Venezuela e a China de Mao Tsé-Tung (a atual China, aliás, merece uma análise mais detida).
O essencial é que todo regime socialista, em algum momento, adota um novo nome. O que era social-democrata transmuta-se em nazismo, fascismo, revolução bolivariana, entre outros. A democracia não é bem-vinda ao regime comunista; ela figura apenas como o cocheiro do regime socialista, conduzindo-o até a festa comunista.
Mas por que essa mudança de nome?
Aqui ocorre o primeiro golpe dentro da própria fortaleza. A Rússia conseguiu seguir os preceitos de Karl Marx antes de outros países, em grande parte devido à condição anterior do país antes da revolução. Se pensarmos que a Rússia já era difícil sob o comunismo, antes disso ela ainda vivia sob um regime feudal. Um exemplo marcante é a coroação do último Romanov, Nicolau II, quando faltou comida para o público que foi ao evento real. O resultado foi um tumulto, com muitos sendo pisoteados na ânsia por pão, evidenciando a pobreza e o atraso da Rússia em contraste com a grande revolução industrial que impulsionava a Europa em direção ao futuro.
Mas, retornando ao pioneirismo socialista da Rússia, o conceito de Mãe Rússia, já historicamente conhecido em seu seio, adquire outra feição, posicionando-se a Rússia, até o final da Guerra Fria, como a pátria-mãe do socialismo. Todo socialismo submetia-se à sua tutela, ou orientava-se por seu direcionamento dentro desse conceito. Uma ideia seguida fervorosamente pela Coreia do Norte e por Cuba até os dias atuais. No entanto, quando outros países como a Alemanha de Hitler, a Itália de Mussolini e a China de Mao compreenderam que a Rússia sempre seria a líder desse movimento de domínio total dos meios de produção, das finanças e do militarismo nacional, romperam com esse conceito de Mãe Rússia, assumindo a direção de seus próprios governos. Um exemplo relevante é a entrevista de Hitler em 1923 ao jornalista e propagandista pró-nazista George Sylvester Viereck, que marca a primeira fase desse golpe dentro do próprio socialismo.
"O socialismo é uma antiga instituição ariana, germânica. Nossos ancestrais alemães mantinham certas terras em comum. Eles cultivavam a ideia do bem comum. O marxismo não tem o direito de se disfarçar de socialismo. Ao contrário do marxismo, o socialismo não repudia a propriedade privada, não envolve negação da personalidade e é patriótico.”
"Poderíamos ter nos chamado de Partido Liberal, mas escolhemos nos chamar de Nacional Socialistas. Não somos internacionalistas. Nosso socialismo é nacional. Nós exigimos o cumprimento estatal de reivindicações justas das classes produtivas com base na raça e solidariedade. Para nós, Estado e raça são um".
Essa entrevista é, sem dúvida, uma tentativa de brado de independência, e, como todo socialista, abraçará qualquer tema que seja relevante à população. À época, a demanda era pela industrialização, pelo crescimento econômico, pela reorganização da Alemanha como um país orgulhoso — lembrando que a Alemanha fora realmente humilhada pelo tratado que pôs fim à Primeira Guerra Mundial. Qualquer semelhança com pautas atuais, como homossexualidade, racismo, feminismo, é apenas um palanque para alcançar o poder. No passado, o trabalhador era a base da esquerda brasileira; hoje, com o trabalhador mais educado, é preciso buscar outras minorias para defender. Nos tempos de Hitler, a minoria era a população economicamente e socialmente rebaixada. Contudo, como o conceito de Mãe Rússia é denso, essa independência ainda levaria mais tempo para se concretizar.
Se socialismo e comunismo são um conceito, e esse conceito se remete a outra nação, as pessoas, moldadas por anos de educação dirigida, podem insurgir-se contra o próprio governo, em favor da pátria-mãe, que é a Rússia, detentora de toda a “filosofia” do assunto. Este é um risco que nenhuma grande nação que adentra o socialismo, a caminho do comunismo, está disposta a correr. As pequenas, contudo, não se importam, pois, sendo realmente pequenas demais, o jugo russo lhes é favorável.
Dentro do conceito comunista da Mãe Rússia, apenas a Rússia podia liderar o mundo igualitário, sendo todas as outras nações obrigadas a reverenciar sua autoridade. Isso ficou evidente na grande aliança entre Hitler e Stálin no início da Segunda Guerra Mundial, quando a Rússia e a Alemanha nazista invadiram juntas a Polônia, desencadeando o conflito. Stálin esperava que a Alemanha varresse a Europa, enquanto a Rússia se beneficiaria dos despojos da guerra — uma espera semelhante à de Ciro Gomes, aguardando o apoio do PT de Lula nas eleições presidenciais de 2018.
O Partido nacional-social dos trabalhadores alemães, seguindo seus próprios interesses, traíram a Mãe Rússia e remodelaram completamente a imagem do governo, mantendo, porém, o controle total sobre todos os meios sociais conforme instruído pelo comunismo de Karl Marx. Essa traição manifesta-se em dois momentos distintos: primeiramente, quando os nazistas, internamente, iniciam uma propaganda incessante sobre o socialismo ariano, retirando todos os méritos do comunismo russo. Quem nunca ouviu a frase "aquilo não era comunismo, interpretaram errado o que era socialismo"? Foi exatamente essa a propaganda disseminada, dando carta branca para que o regime nazista cometesse grandes atrocidades com o consentimento de parte relevante da população. O segundo momento ocorre durante a Segunda Guerra Mundial, quando Hitler quebra o Pacto Molotov-Ribbentrop, um tratado de não agressão entre os países que havia facilitado a invasão conjunta da Polônia.
Mas de onde se misturam os conceitos de nacionalismo, direita, conservadorismo, nazismo, fascismo e tudo o que permeia a narrativa progressista e da nazi-esquerda na América Latina?
É crucial lembrar que o socialismo, ao contrário do capitalismo, é um movimento antinatural. É um conceito forjado por herdeiros que nunca vivenciaram suas próprias teorias, como um experimento não testado, onde se idealiza sem considerar que milhares de anos de evolução nos trouxeram até aqui porque é assim que as coisas funcionam. A consciência coletiva é construída de forma lenta, e é essa inobservância que leva os socialistas a cometerem atrocidades, acreditando deter o julgamento correto do que fazer. Contudo, jamais são punidos por esses atos, o que dá origem ao termo "bigodagem", pois, quando algo sai errado, a culpa é sempre dos outros ou de seus camaradas que, supostamente, não compreenderam verdadeiramente o conceito.
Por isso, o malabarismo conceitual é uma habilidade amplamente dominada por eles: confundir no debate, mentir onde não se pode comprovar dados e tentar fazer você duvidar de si mesmo são habilidades inerentes ao esquerdista, ao socialista, ao comunista, especialmente potencializadas nos tempos atuais de progressismo e nazi-esquerda.
A inteligência a se desenvolver e saber ler o novo conceito que se renova como um câncer, desde os tempos mais primórdios.
Mas vamos dar por encerrado aqui. Na próxima semana, exploraremos por que a narrativa de que fascismo e nazismo são de direita é tão frequentemente repetida.
Saiba apenas que não passa de mais um golpe.
Achados e Perdidos de Assis