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Tradicional Nobreza Brasileira
Uma ode aos canalhas sem espírito, cuja astúcia e desfaçatez transformam o mundo num palco de enganos, onde a virtude é mero adereço e a honra, artifício descartável.
No intricado emaranhado das relações sociais, Pedro, engenheiro rico, ligava-se com Cícero, um advogado cuja eloquência não conhecia limites, sempre urdindo negócios em prol do primeiro.
Cícero, por sua vez, nutria um romance velado com Lívia, filha de Pedro, em um enredo que mal se dissimulava.
Lívia, enlaçada em matrimônio com Fábio, empresário de consórcios, descortinava-se uma teia de negócios ilícitos em que ele se imiscuía, cúmplice de Thiago, ocultando-se nas sombras da clandestinidade.
Nos meandros da vida, Thiago labutava oficialmente em algumas empresas de engenharia, oferecendo sua consultoria aos mais altos interesses. Filho de Ilídio, um empreiteiro célebre, cujo nome ecoava nos corredores do governo.
Ilídio, entretanto, ainda que imerso em suas empreitadas pelo país, não escapava às teias do afeto, cultivando um ardente sentimento por sua esposa Suzana.
Suzana, figura de inatacável virtude, deleitava-se em eventos de elevado gabarito, ciente, contudo, da existência de um filho extraconjugal de seu esposo com Letícia. Sem jamais aludir ao delicado assunto, impunha a seu marido o encargo de prover para o filho e Letícia, obstando que atravessassem as agruras da penúria financeira.
Letícia, outrora envolta em uma juventude tumultuada, residia em Brasília com o filho, beneficiária de uma renda substancial provida pelo pai da criança. Dedicava-se, ademais, ao ofício de assessora parlamentar do deputado Bento.
Bento, figura oficialmente tida como exemplar, de índole conservadora e prole radiante, via-se incessantemente confrontado pelas disputas desencadeadas por seus antigos casos amorosos que permeavam seu gabinete. Com o intuito de administrar eficientemente tal situação, recorreu à contratação de Jairo para aprimorar a gestão de seus assuntos.
Jairo, amigo de longa data cujo percurso na internet o enriquecera, porém, perdeu a estima pública ao se descobrir sua vinculação amorosa com diversas integrantes de sua equipe. Esse desfecho culminou também na dissolução de seu matrimônio com Sofia, com quem partilhava alegrias e um filho.
Sofia, reputada como a mais íntegra entre as revoadas deste turbilhão, nutria uma ardente devoção pelas letras e, após o desenlace conjugal, deliberou erguer uma biblioteca privativa, arregimentando Maria para coadjuvá-la em sua administração.
Maria, progenitura de Pedro, resguardava em si a responsabilidade de dois rebentos, enlaçada numa união com Ivan, que desertara o lar. Apesar disso, ele sustentava, com denodo, toda a teia doméstica.
Ivan, por seu turno, foi avistado em Recife, imiscuindo-se nas tramas políticas, oficiando como fotógrafo para um partido de inclinações esquerdistas e galanteando Isabel.
Isabel, donzela de fino trato, fora persuadida por Ivan a posar nuamente, em uma atmosfera de monocromia, desfrutando um cigarro na varanda do apartamento. A partir desse episódio, ela se embrenhou nos braços do fotógrafo, deixando de lado seu enamorado Sávio, em virtude da suposta ousadia do novo amante.
Sávio, um rapaz jovem e retraído, labuta nos escritórios de Honório, progenitor de Isabel, desempenhando o cargo de contador. A ocupação lhe foi outorgada mediante influência do pai, dotado de um círculo social invejável.
Honório, homem de tradições enraizadas, senhor de vastas glebas e coronel moderno, dedica-se à criação de gado, enquanto expande suas atividades mediante a aquisição de terras no sudeste do país. A seu lado, Gerson, advogado de confiança, o auxilia nesse empreendimento.
Gerson, parceiro de Cícero nos negócios, é esposo de Juliana, irmã de Pedro, que continua rico.