Tristeza

In Memoriam Charlie Kirk

Hoje acordei triste. Mentira: ontem já dormi triste.

O assassinato de Charlie Kirk, 31 anos, casado, pai de duas meninas pequenas, não me entristeceu apenas por sua morte precoce, mas pelo que ela simboliza. Ele não partiu em busca de mares desconhecidos como Colombo, nem partiu à conquista de impérios como Alexandre. Saiu de casa, dia após dia, apenas para dialogar. Era isso: um sujeito que se sentava sozinho diante de plateias hostis, falando com gente bonita, descolada e convicta de que possuía a verdade.

E esse gesto simples, conversar com o oposto, que os antigos filósofos já entendiam como a base da vida pública, em 2025 tornou-se um ato temerário.

O que dói, antes de tudo, é o vazio: duas filhas crescerão sem o pai, uma esposa jovem atravessará o abismo da criação sozinha. Mas dói também a previsibilidade, Bolsonaro, Trump, Uribe, Kirk, rotulados de fascistas, genocidas, assassinos, são eles que acabam assassinados, presos ou quase.

Denunciar a esquerda, hoje, é como tentar esmurrar uma nuvem de tempestade: seu punho passa reto, e o que sobra é o trovão. O trabalho deles é cultural, quem não entender isso, não se meta com isso. Pergunte a um progressista qualquer sobre a morte de Kirk e ouvirá respostas que variam entre “mereceu”, “alguém tinha que fazer” e “consequências”. A moralidade foi terceirizada para slogans.

Não faz muito, o STF brasileiro aplaudiu em concurso oficial a fotografia de um cadáver em sua porta, com o título: “Consequências.” Para bom entendedor, recado claro: a vida do dissidente é descartável. A Janela de Overton não apenas se moveu, foi arrombada. O que antes era ultraje virou consenso. Os bigodes alemães de outrora, que chamavam homens de insetos, já conheciam essa pedagogia do desprezo.

O que vive afastado da luz nunca vence. Mas até ser vencido, traz dor, ruína e perdas. Daí a necessidade de reconhecer quem realmente está ao nosso lado, e cultivar não apenas boas intenções, mas boas ações, que pedem sacrifício. Sair do charme da sedução e do culto ao rico, bonito e famoso e entender quem realmente será seu companheiro de caminhada. Esse tempo se aproxima.

Hoje, sigo triste. Triste pela forma como Kirk se foi: exposto, alvejado, sem chance de diálogo. Mas confiante de que ele agora repousa no mistério luminoso do Pai. Sua honra não está em sua morte, mas na vida breve e inteira que dedicou ao diálogo. E é assim que a eternidade o recebe.