Vive la France 🇫🇷

Quem ganhou, quem perdeu ou vice e versa.

Hoje resolvi afastar-me da pauta usual para discorrer sobre eventos contemporâneos que, em breve, se esvanecerão na memória.

Refiro-me às eleições francesas.

Nós, que mal compreendemos nosso próprio sistema eleitoral, como ousaríamos desbravar a intricada tapeçaria da democracia francesa? Ainda assim, permanecemos, como fervorosos adeptos, desejando a vitória de nossa causa em todos os rincões do mundo, na ingênua crença de que, assim, o mundo se tornará um lugar melhor.

Que conversa é essa, de tão romântica e iludida paixão? 

Se governos de uma mesma ideologia fossem capazes de governar bem o mundo, Roma, o Império Mongol, o Império Britânico e outros tantos antigos ainda estariam vigorando em nossos dias. 

A paixão política é a mais vil das paixões; entregar-se a ela em uma análise superficial é tão concreto quanto a promessa "eu só fiz isso com você", proferida com frequência pelas modernas raparigas (não no sentido lusitano) aos homens entusiasmados.

O primeiro-ministro francês, Macron, empreendeu um movimento político legal e constitucional com o intuito de favorecer-se na eleição francesa, lembrando que o partido conservador britânico ensaiou o mesmo movimento, mas lá, a tentativa malogrou. 

O governante da baguete é do chanson empregou a mesma estratégia comum aos regimes totalitários e amplamente utilizada pelos atuais regimes nazi esquerda na América Latina: repetir uma mentira mil vezes até que se torne uma verdade. Assim, introduziu a ideia da extrema-direita como inimiga da democracia, valendo-se do apoio de jogadores famosos, artistas consagrados e todo um consórcio satisfeito com a atual organização social, que, em sua maioria, controla os meios de comunicação e produção do país.

Assim, ele obteve uma reviravolta eleitoral extraordinária. Até o momento, não houve qualquer denúncia de irregularidade no processo, que foi conduzido de forma lícita e transparente para todos os participantes, sem interferências de outros poderes, apenas com o controle dos meios de comunicação e de produção.

O que desejo destacar é que tal controle não foi ditatorial, não foi imposto, mas sim um controle natural. No caso europeu, onde um progressismo crescente há décadas educa e permeia a vida dos cidadãos, muitos de nós admiramos o modelo criado e vivido por eles.

Uma consciência coletiva demanda tempo para se consolidar. Saul Alinsky, ao publicar "Rules for Radicals" em 1971, lançou as bases de uma bíblia para a guerrilha progressista; ele, porém, jamais viu em vida seu modelo de sociedade alcançar o ápice. Da mesma forma, Sérgio Buarque de Holanda não viveu para testemunhar o PT atingir a posição que ocupa hoje no Brasil.

Reitero que a paixão política é a mais miserável das paixões; contudo, é ainda uma paixão. Se você crê que mudará o país do conforto de seu quarto com ar condicionado nos Jardins, em São Paulo, apenas denunciando as hipocrisias da esquerda que lhe chegam pelo seu iPhone de última geração, lamento informar que o progressismo, a Rússia, a nazi-esquerda latino-americana e até o islamismo seguirão avançando. Esse conservadorismo de oportunidade é o adversário ideal que todos esses movimentos totalitários poderiam almejar.

É tão evidente que, toda vez que um conservador assume o poder em um país onde esses movimentos estão fortes, ele apenas serve para fortalecer e validar a presença destes no cenário nacional.

Isso ocorre porque o conservadorismo de ocasião é superficial; na segunda página do livro, já não sabe o que fazer. O sujeito começa a frequentar a igreja, pregar que é católico, entra na Opus Dei, segue todos os preceitos e dogmas, mas, quando ganha um bom dinheiro fruto de grande esforço e trabalho, vai comemorar em um bordel. E assim se forma a tradicional família brasileira divorciada.

A moça se oculta por trás da cruz, adorna-se como um doce de festa infantil, recita novenas diárias e reza o terço, mas quando confrontada com a exigência de virtude diante de algo relevante, prefere utilizar os benefícios progressistas que são oferecidos a toda mulher moderna. Assim, mais uma vez, moldamos a tradicional família brasileira, agora dividida.

O liberalismo econômico estende-se apenas até o ponto em que o governo não atua como jogador no mercado. Contudo, tão logo o governo começa a distribuir benefícios e subsídios, o empreendedor brasileiro deixa de lado o discurso da liberdade econômica. Ou será que já esquecemos do apoio de alguns conservadores na taxação de compras internacionais, todos focados em resgatar os empresários do varejo brasileiro, seja com cabelos ou sem?

E o que dizer das diversas escolas que formam líderes, ensinando os ricos a enriquecer ainda mais, enquanto mantêm algumas pessoas de baixa renda ao redor para fingir inclusão?

O conservadorismo global não está sendo devorado pelos movimentos absolutistas; ele é apenas um movimento alimentado por herdeiros frágeis, indecisos entre a nobreza e o desfrute indiscriminado da riqueza que lhes foi concedida, além do temor de serem superados por aqueles teoricamente inferiores, pois não foram educados para tal.

O último parágrafo não visa incitar uma reação ou uma luta de classes, mas é suficiente observar quem, após as eleições de 2022, clamava por fraude eleitoral na internet e na televisão, e quem permaneceu à porta dos quartéis. Nenhuma dessas pessoas se mostrou disposta a guiar o povo que as seguia para fora da armadilha do dia 08/01.

Uma mudança social é um processo longo, que deve ser estrutural e emergir dos indivíduos. As pessoas precisam ser virtuosas de fato, não apenas aparentar virtude; é necessário praticar a nobreza, não apenas ostentar a empáfia nobre, e é essencial cultivar uma relação genuína com Deus, não apenas usar seu nome para fins pessoais.

Corremos o risco de repetir o conservadorismo britânico, que negociou amplamente com Hitler antes da Segunda Guerra Mundial na esperança de "tirar vantagem da situação e ganhar dinheiro". Claro, durante a guerra, muitos deles se refugiaram no Canadá ou nos EUA para assegurar a continuidade de sua covardia e perpetuar sua falta de nobreza.

Restou apenas Churchill, o conservador que cometeu graves erros na Primeira Guerra e ainda buscava resgatar a honra que um dia possuíra.

A vitória da esquerda na França revela um conservadorismo de oportunismo, onde Le Pen, à semelhança de Bolsonaro e Trump, captou os anseios da sociedade e os amplificou em seus megafones, sem possuir a verdadeira virtude, nobreza e capacidade para tal. Nesse aspecto, a esquerda merece louvor. Se Sérgio Buarque de Holanda fosse um conservador brasileiro, teria posto Chico Buarque de Holanda à frente do PT, ao invés de buscar alguém que genuinamente refletisse os anseios populares. Teríamos perdido um grande músico, isso é o único fato que posso afirmar.

Quanto às eleições britânicas, os conservadores lideraram o Brexit sem saber como efetivá-lo, o que resultou na transferência do governo para a esquerda. A tolice com boas intenções é pior do que ambos separados.

Na próxima semana, se possível, retomaremos "Meu Golpe Favorito".